Noticiado em: segunda-feira, 1 de março de 2010
Um pouco sobre Persépolis:Creio que um dos principais requisitos para se escrever uma autobiografia é a honestidade, o contrário, o que veríamos seria somente uma autopromoção.
Atualmente, com toda a exposição e sucesso que as HQ’s vêm tendo (principalmente em adaptações no lucrativo mundo dos cinemas), a ideia de mostrar a vida de algumas celebridades nesse formato vem se tornando (infelizmente?) algo cada vez mais frequente.
Mas foi longe dos holofotes, em meio aos quadrinhos alternativos, que surgiu Marjane Satrapi com sua autobiografia intitulada Persépolis.
Sucesso quase que imediato na França e ganhador de importantes prêmios como o Coup de Coeur do Festival de Angoulême, o livro se espalhou pela Europa e ganhou publicações por diversos outros países do mundo.
O livro começa com a introdução do quadrinhista francês David Beauchard (Uns dos incentivadores de Satrapi e autor de Epilético), que faz um breve resumo da história do Irã desde os tempos da Pérsia até o momento em que a pequena Marji com 10 anos de idade começa o relato de sua vida no inicio da Revolução Islâmica em 1980.
A HQ mostra a jornada da autora desde sua infância até o começo de sua vida adulta quando sai de seu país pela segunda vez. Em meio a essa jornada, nos é mostrada a forte ligação e amor pela sua família e a rica cultura de seu país. Além de, é claro, todas as dificuldades sofridas pelo seu povo causadas pelo radicalismo do novo regime.
As várias mudanças impostas pelo novo regime – que vão desde o uso obrigatório do véu pelas mulheres e a proibição de festas e ingestão de bebidas alcoólicas - nos são mostradas através dos olhos críticos e da personalidade forte, herdada de seus pais, da pequena Marji.
No começo de sua juventude o cenário muda e Marjane é enviada a Áustria pelos seus pais. Embora essa mudança não seja bem vista por alguns críticos – alguns por considerarem irrelevante e menos interessante - essa época é marcada pela sua perda de identidade – que em sua infância se mostrou tão forte.
O relato dessa época se faz importante (com toda a história da procura por aceitação e amigos, desilusões amorosas e preconceitos que uma pessoa sofre em um país estrangeiro) e ganha mais relevância ao mostrar, após todas as dificuldades, a recuperação e o retorno de Marjane ao seu país.
Particularidades:
Apesar de saber sobre a existência de Persépolis alguns anos atrás - devido à indicação ao Oscar de melhor animação em 2008 - confesso que foi através das famosas listas de melhores da década que despertou o meu interesse em conhecer a obra.
O que posso dizer é que Nenhum livro de história conseguiria me explicar tão bem a respeito da cultura do povo iraniano quanto Persépolis, que além de servir para desmistificar essa visão americanizada a respeito dos países do oriente médio, serve também para diminuir um pouco as distâncias e aproximar culturas.
Acostumados a escutar que guerras são responsáveis por importantes avanços tecnológicos ou são feitas no intuito de trazerem a paz, não nos colocamos no lugar ou ao menos pensamos que pessoas inocentes estão no meio do fogo cruzado.
E todas as desculpas usadas – rixas milenares, disputas territoriais e conflitos religiosos – caem por terra quando os reais motivos dessas guerras são revelados.
A guerra Irã x Iraque - 1980–1988:
O Iraque chegou a gastar 3/4 do seu Produto Interno Bruto em armamentos durante a guerra. Entre 1981 e 1985, o Iraque vendeu 48.4 bilhões de dólares em petróleo. No mesmo período, os gastos com armas chegaram a 120 bilhões de dólares.
Apesar de quase 80% das armas virem da União Soviética e França, não faltavam outros candidatos dispostos a entrar na fila: Alemanha, China, Coréia do Norte, Síria, Líbia, Egito... Brasil (quarto maior fornecedor de armas). Os EUA ajudaram o Iraque de outras maneiras: dinheiro, materiais, e expertise militar.
Em 1988, depois de matar 1.5 milhão de pessoas e de basicamente voltar ao ponto de partida na disputa territorial, os dois lados aceitaram uma trégua (o fim da guerra nunca foi assinado).
Outras opiniões:
Universo HQ – Ricardo Malta babeira: “[...] é inegável que Persépolis é um belíssimo álbum, quase didático, que tem como principal força mostrar de forma inédita nos quadrinhos o que ocorreu nas últimas décadas em uma região que já foi um dos maiores impérios da humanidade.”
Omelete – Erico Assis: “Em meio a toda tristeza da situação do Irã, a biografia de Satrapi é forte ao revelar o que é ser um civil no meio de uma revolução, de uma transformação cultural violenta e de uma guerra... Mas, no clima de terror e incerteza do país, Marji e sua família ainda encontram tempo para rir. São estes momentos, de humor no meio do caos (às vezes um tanto nervoso), que tornam Persépolis imperdível.”
Bigorna – Matheus Moura: “Considerado a primeira HQ iraniana, Persépolis encanta do início ao fim. Para alguns a simplicidade dos desenhos pode incomodar, entretanto a complexidade da história a faz sobressair quanto a isso.”
O Atemporal – Thiago Ferreira: “[...]por mais que o Oriente Médio e o resto do mundo estejam distantes cultura, política e geograficamente, uma coisa nos une: a vivência. Essa é a carta na manga que Satrapi usa sabiamente para apresentar um pouco de sua realidade, que não deixa de ser um fragmento verossímil da situação política do Irã.”
Na Vitrine – Renata: “Persépolis não é uma obra sobre o oriente feita para o ocidente, como certos livros puxadores-de-saco-dos-EUA sobre pipas e meninos infelizes são. Em nenhum momento Marjane exalta a liberdade do capitalismo, a superioridade consumista e nem nada dessas besteiras.
Ela reflete, isso sim, sobres as perdas que seu povo sofre, as consequências de uma guerra, quando a palavra do amor é transformada no grito do ódio, quando o riso é considerado nocivo e quando a imperfeição humana impede que a harmonia acompanhe a evolução de um todo.”
Bio:
Título: Persépolis Completo - Edição especial
Autora: Marjane Satrapi
Autora: Marjane Satrapi
Número de páginas: 352
Data de lançamento: Dezembro de 2007
2 comentários:
Nossa , gostei bastante de conhecer sobre essa obra. Vai ajudar muito a entende r mais sobre os conflitos que nossa midia vituperada e indutiva nos passa.
Um grande abraço !!!
É exatamente isso mesmo Diego... É aquela velha história em que se é necessário escutar os dois lados e saber distinguir quando um dos lados está sendo tendencioso (ou não! :) ).
Na obra você tem o lado que raramente aparece, que é do civil que está no meio da guerra.
Valeu pela visita e comentário Diego! ;)
Abraço!
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